Andre Lazaroni

quinta-feira, dezembro 09, 2010


Mais avanço na sustentabilidade. Uma das matérias-primas que a Embrapa está pesquisando como alternativa para o biodiesel também se torna, com êxito, bioquerosene para a aviação. A empresa aérea TAM faz vôos de teste, desde o dia 22 de novembro, com um Airbus A320, que está utilizando biocombustível para aviação a partir do pinhão-manso. Em seu vôo inicial, a primeira experiência na América Latina, o Airbus A320 decolou do aeroporto Tom Jobim (Galeão), no Rio, e sobrevoou o Oceano Atlântico por 45 minutos, retornando ao ponto de partida.

Reportagem de Daniela Garcia Collares, da Embrapa, revela que a experiência com o Airbus A320 se deve aos novos movimentos da aviação que indicam o crescimento do cuidado com o meio ambiente. O transporte aéreo mundial é responsável por cerca de 2% dos gases de efeito estufa liberados na atmosfera. O uso de combustível renovável é uma opção para reduzir essas emissões.

Segundo a Associação Internacional do Transporte Aéreo – IATA – o pinhão-manso é uma das três matérias-primas mais promissoras do mundo para a aviação. A previsão é de que esse biocombustível possa ser incorporado ao cotidiano aeronáutico dentro de cinco anos.

O bioquerosene foi elaborado pela empresa UOP LLC, do Grupo Honeyweel, nos Estados Unidos, transformando óleo de pinhão-manso em bioquerosene e realizando a mistura com o Justificarquerosene convencional de aviação, na proporção de 50%. O gerente de Energia da TAM, Paulus Figueiredo, afirmou: “temos interesse em conhecer o processo, principalmente o ciclo de vida de emissões e os custos que devem ser compatíveis ou menores do que o querosene convencional”.

A TAM está empenhada, em parceria com a Associação Brasileira de Produtores de Pinhão-Manso (ABPPM), em adquirir a matéria-prima brasileira e utilizá-la na produção desse biocombustível com benefícios econômicos e sociais relevantes, já que é oriunda de projetos da agricultura familiar e empresarial.

Declarou Paulus Figueiredo: “optamos pelo pinhão-manso principalmente por não ser comestível por animais e seres humanos, por ser uma planta resistente a climas e solos desprivilegiados, e, entre outros fatores, para incentivar a agricultura brasileira em relação à planta com uma utilização não considerada pelos pioneiros nessa cultura”.

As pesquisas no Brasil são fundamentais para que se possa garantir a adoção da melhor opção para o querosene de aviação renovável. As pesquisas para a domesticação do pinhão-manso são cruciais para garantir melhor produtividade, o que traz mais competitividade no custo final e no ciclo de vida das emissões.

Esses trabalhos estão em andamento sob a coordenação da Embrapa Agroenergia em parceria com outras unidades da empresa e com instituições publicas e privadas, como o caso da ABPPM. Bruno Laviola, pesquisador da Embrapa Agroenergia, ainda destaca que o pinhão-manso não concorre com a agricultura de alimentos.

Pesquisas estão sendo executadas em todas as áreas da cadeia produtiva, envolvendo melhoramento genético, biologia avançada, desenvolvimento de sistema de produção, colheita e pós-colheita que visa à qualidade do óleo, destoxificação da torta e estudos socioeconômicos e ambientais nas diversas regiões brasileiras.

Os trabalhos estão em andamento nos campos experimentais das unidades da Embrapa, sendo que foi montando um Banco de Germoplasma com acessos de origem de diversas regiões do Brasil, além de unidades de observação – UO - Maranhão, Pará e Mato Grosso.

Disse Bruno Laviola: “as informações obtidas a partir dos resultados poderão contribuir para o futuro do domínio tecnológico da cultura voltado a diferentes regiões produtoras”. Para a TAM, todas as pesquisas sempre devem considerar os impactos sociais, econômicos e ambientais da alternativa não-fóssil ao querosene de aviação, mantendo ou superando-o em aspectos de qualidade e sustentabilidade.

Em relação aos vôos comerciais, Paulus Figueiredo acrescentou que a possibilidade de utilização dependerá de estudos de viabilidade visando a garantir o ciclo de vida de emissões e custos compatíveis. A parceria entre pesquisa, produção rural, indústria e empresa aérea para a produção do bioquerosene é importante porque traz amplos benefícios para todos os envolvidos.

O produtor rural, ao implantar a plantação consorciada, obtém maior produtividade (consequência da domesticação e da reprodução de material genético ótimo, um resultado das pesquisas) e melhor remuneração; a indústria, por outro lado, tem seus requisitos de sustentabilidade atendidos, considerando impacto socioeconômico e ambiental.

Em maio deste ano, foi formada a Aliança Brasileira para Biocombustíveis de Aviação – Abraba – composta por empresas aéreas e de pesquisa de biocombustíveis, produtores de biomassa e fabricantes aeronáuticos visando ao desenvolvimento e à certificação de biocombustíveis sustentáveis para a aviação. A Abraba acredita que a utilização de combustíveis renováveis produzidos a partir de biomassa é fundamental para manter o crescimento da indústria de aviação em uma economia de baixa emissão de carbono.

A reconhecida capacidade do Brasil em desenvolver fontes energéticas alternativas, aliada ao conhecimento das tecnologias aeronáuticas, resultará em um significativo ganho para o meio ambiente, minimizando o impacto sobre o desenvolvimento econômico. O ideal é que os motores das aeronaves consigam se adaptar ao novo combustível sem grandes alterações técnicas.

A idéia é transportar passageiros usando biocombustíveis em um futuro próximo. Para Fernando Rockert de Magalhães, vice-presidente técnico da Gol, a partir de 2012, os biocombustíveis devem se tornar uma realidade na aviação. A Gol tem a mesma preocupação da TAM. A Embraer já comercializa o modelo agrícola Ipanema, primeira aeronave produzida em série para voar com etanol.

publicado por André Lazaroni em 9.12.10



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