Andre Lazaroni

domingo, novembro 14, 2010


Com uma paisagem natural tão diversa, com serra, baixada e mar, o Rio de Janeiro sempre encantou gente de todo o mundo e é fonte permanente de inspiração para escritores, músicos e poetas. Os efeitos da ocupação urbana, no entanto, muitas vezes comprometem essas belezas naturais.

Para analisar como essas transformações interferem no espaço, dos efeitos da forte presença da metrópole carioca e da urbanização sobre a paisagem fluminense, um grupo multidisciplinar, que abrange pesquisadores com experiência em geoprocessamento, avaliação ambiental, gestão territorial e planejamento do Departamento de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC), desenvolveu o projeto Metropolização e transformações no espaço e na paisagem do Estado do Rio de Janeiro.

O estudo, que tem coordenação de João Rua, doutor em geografia humana, contou com recursos do edital Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro. Reportagem da Ascom da Faperj mostra que, durante a pesquisa, foi feito o levantamento e a atualização de informações sobre o contexto histórico, socioeconômico, político, cultural e físico-ambiental do território fluminense, além de pesquisa em documentos históricos ligados à sua ocupação, entrevistas com moradores e análise de informações sobre as manifestações urbanas em áreas rurais.

Tudo isso permitiu aos pesquisadores avaliarem diversos aspectos do Rio de Janeiro. Tomando-se como ponto de partida a época da fusão do estado da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro, há 35 anos, uma das mudanças mais significativas, de acordo com João Rua, foram as estratégias de interiorização econômica, política e cultural, que vêm integrando a capital ao interior do estado.

Explicou o geógrafo: “o pólo petroquímico de Itaboraí, as fábricas de automóveis em Resende, entre outros exemplos, estão unindo o que a história separou desde o governo de Juscelino Kubitschek, em que se priorizou a entrada de empresas estrangeiras e o investimento de capital internacional no sudeste do país”. A integração da capital ao interior é muito mais do que física. João Rua explica que as influências culturais e de comportamento que a metrópole tem exercido sobre o interior fluminense, ao longo do tempo, têm encurtado a distância entre ambos.

Segundo João Rua, não basta estar na cidade para ser considerado urbano. Ele detalha como se processa esta situação, a partir do conceito de urbanidades. Afirmou ele: “considera-se que urbanidades podem ser constituídas por uma enorme gama de manifestações, que incluem, em seus aspectos materiais, a melhoria da infraestrutura e dos meios de comunicação, novas formas de lazer, uma segunda residência, o turismo, as indústrias, o acesso a bens de consumo coletivos, especulação imobiliária e o preço da terra, além de novas relações de trabalho e direitos trabalhistas, aposentadoria rural, dentre outros indicadores relevantes”.

Mas aspectos imateriais também podem incluídos entre as urbanidades, como certos valores, entre eles a moda, a preocupação com a segurança, hábitos e costumes. Exemplifica o pesquisador: “também os hábitos e costumes difundidos pela mídia têm alterado significativamente a vida cotidiana rural. Assim, muita gente que mora na metrópole não tem, necessariamente, uma vida urbana, enquanto pessoas que moram no interior podem ter mais acesso às ditas urbanidades. É nesse ponto que as fronteiras entre urbano e rural se perdem e ganham novas significações”.

Outro ponto abordado na pesquisa é a complexidade da relação entre a habitação urbana no que diz respeito à exploração destrutiva da imensa diversidade natural do estado. É preciso lembrar que as perturbações críticas responsáveis pela devastação florestal em áreas montanhosas e florestais da região metropolitana do Rio de Janeiro não implicam apenas perdas ecológicas e econômicas, mas também prejuízos a possibilidades de serviços ambientais, como o turismo ecológico.

Foi constatado que a deflagração de processos erosivos, como os desabamentos de encostas, sempre têm início em pequenas transgressões, que desencadeiam processos muitas vezes irreversíveis e tragédias que já pudemos presenciar. Segundo o geógrafo, o que acontece numa encosta acaba se refletindo sobre toda a bacia de drenagem, podendo causar seu assoreamento, diminuindo a qualidade e a quantidade de água.

Argumentou João Rua: “a utilização de uma encosta para a construção de uma estrada, por exemplo, precisa levar em conta esses fatores, porque do contrário incorrerá em custos de manutenção ou de recuperação altíssimos, caso mais tarde a encosta venha a desabar por falta de planejamento adequado e diagnóstico preciso”. Entende ele que poderia haver um uso mais apropriado da natureza.

Sugeriu João Rua: “do ponto de vista de benefícios para a população do Rio de Janeiro, manter a floresta de pé significa poder contar com serviços ambientais importantes. A intensificação do turismo ecológico na floresta da Tijuca, a terceira maior floresta urbana do mundo, por exemplo, seria uma excelente alternativa para uma exploração sustentável, que traz benefícios à população sem destruir o ambiente”. Além do coordenador, também participam do projeto os pesquisadores Augusto César Pinheiro da Silva, Regina Célia de Mattos, Álvaro Ferreira, Rita Montezuma, Rogério de Oliveira e Luiz Felipe Guanaes Rego.

publicado por André Lazaroni em 14.11.10



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